"(...) Não se escreve só com palavras: antes que elas se fixem no papel, algo anterior - a existência - se inscreve no espírito"
"Emily Dickinson: 'Não há melhor fragata que um livro para levar-nos a terras distantes'"
"Os escritores se assemelham mais aos espelhos deformantes que encontramos nos parques de diversões, que, em vez de reproduzir ponto a ponto quem neles se admira, o deformam, traem e recriam"
"(...) na escrita de Marina Colasanti: a da parteira que, com suas delicadas manobras e seu fino bisturi, dá à luz novas criaturas, descerrando assim faixas do real que antes eram inacessíveis"
"(...) ela concebe sua escrita: como um bordado. (...) Talvez no centro da literatura de Marina Colasanti, ainda mais sutil que um fio, esteja uma palavra que nunca poderá ser dita. Palavra secreta que o fio delicado da linguagem se limita a sublinhar"
"Marina nos lembra, ciente de que é através da literatura que o humano alarga sua presença. A escrita se transforma, assim, na domesticação obstinada de nossa remota origem selvagem"
"O atrito entre a lucidez e o instinto não só é inevitável, mas está na base do humano. (...) A lucidez fala da argúcia, da clareza, da inteligência, da consciência. É uma espécie de clarão que se abre sobre a realidade e a ilumina. Já o instinto se refere ao irrefletido, ao espontâneo e ao irracional, e aponta, ao contrário, para uma zona de penumbra (...) na qual predomina a indefinição"
"(...) a realidade é feita de pequenas sensações, de eventos imprevisíveis, de sentimentos e impressões que não conseguimos nomear. (...) A literatura se assemelha, assim, ao esforço do bebê que apenas balbucia, buscando as sílabas corretas com que possa designar as coisas"
"Ao viver, ao nos movermos sobre a Terra, mesmo sem desejar isso, escrevemos. Uma história, na maior parte das vezes, desprovida de palavras; história secreta, mas que nem por isso perde seu caráter de narrativa"
*José Castello in "O Livro das Palavras" Ed. Leya/SP. 2013.
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