"A própria natureza é o 'médico interior' que palpita em cada criatura desde o seu nascimento e que, por isso, sabe sobre enfermidade mais do que qualquer especialista que tem de limitar-se ao exame dos sintomas externos"
"(...) Com a sua absoluta fé na alma universal da natureza, baseia sua convicção no fato de que ela é mais sábia doutora e não necessita do homem senão como seu auxiliar. Da mesma maneira que o sangue, sem ter escutado a lição de nenhum químico, fabrica antitoxinas, assim também o organismo, sustentador e organizador de si próprio, sabe, a maior parte das vezes, dar fim a enfermidade que o aflige, valendo-se dos próprios recursos"
"(...) Visto de fora, o sistema é incompreensível, quase ridículo na sua simplicidade: médico e enfermo sentados amigavelmente frente a frente, limitando-se aparentemente a uma agradável palestra. Nada de raios X, nada de instrumentos registradores, nem de lâmpadas de quartzo, nem sequer um simples termômetro; nada que lembre o complicado arsenal técnico que constitui o legítimo orgulho de nossa época. E, apesar disso, seus métodos arcaicos são com frequência mais eficazes do que toda a nossa adiantada terapêutica"
"(...) Já não nos assustam as tão combatidas ideias de Mesmer (médico e pesquisador), segundo as quais nosso ser individual expele uma determinada energia própria que, fugindo aos limites das fibras nervosas, vai projetar-se de maneira quase mágica sobre a vontade de outro ser e tem a propriedade de atuar sobre o mesmo. (...) deu um novo continente à ciência, com infindáveis arquipélagos e terras virgens, que tardaria muito tempo para ser explorado: a psicoterapia (...) todos esses domínios hoje abertos à psiquiatria, a hipnose, a sugestão e a psicanálise, assim como o espiritismo e a telepatia, tem a sua sede na terra nova que descobriu aquele trágico solitário, que ignorava ter penetrado numa região da ciência muito mais vasta do que a medicina"
"(...) eu opino pela grande predisposição de Mary Baker para o milagre (...) assim também o prodígio, para realizar-se, pressupõe sempre uma determinada disposição, um estado anímico de tensão nervosa e mística; nunca se verifica um milagre numa pessoa que, no seu íntimo, não o venha esperando ansiosamente durante longo tempo"
"(...) Todo gênio, diz Nietzsche, usa uma máscara. Freud escolheu uma das máscaras mais impenetráveis: a sua discrição. Sua vida exterior dissimula uma potência demoníaca de trabalho sob uma espécie de sóbria burguesia de filisteu. Seu rosto: o gênio criador sob feições calmas e regulares. Sua obra, extremamente audaz e revolucionária, reveste a exterioridade modesta própria dos métodos universitários de uma ciência natural exata. A frieza incolor de seu estilo oculta a arte cristalina de seu poder criador. Gênio da sobriedade, gosta de manifestar o que, no seu ser, é sóbrio e não o que é genial. A princípio só aparece a medida; o desmesurado revela-se mais tarde em profundidade. Em todas as coisas, Freud é mais do que quer aparecer (...)"
"(...) o inconsciente não é mudo. É verdade que se exprime por sinais e símbolos diferentes dos usados pelo consciente. Aquele que quer deixar a superfície para descer ao seu próprio abismo, deve antes de tudo aprender a língua desse mundo novo. (...) Aquele que compreende uma nova língua apreende um sentido novo"
"Uma geração sempre deve sua liberdade exterior à liberdade interior de um só indivíduo. Toda ciência nova precisa de um precursor que a torne perceptível aos outros homens"
"(...) A mim me parece que a raridade desses verdadeiros mestres da alma é a razão por que a psicanálise será sempre uma vocação ao alcance de alguns e jamais poderá ser considerada um ofício e um negócio - ao contrário do que hoje em dia, infelizmente, muitas vezes acontece"
*Stefan Zweig in "A Cura pelo Espírito". Ed. Delta S.A. RJ. 1956.
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