No texto intitulado
“Hegel e a dialética antiga”, escrita em 1961, Hans-Georg Gadamer trata da
relação entre a dialética hegeliana e a dialética desenvolvida e praticada
pelos primeiros filósofos, especialmente Platão.
Até então, havia lido
sobre violência como um modo de fazer o texto dizer mais do que ele talvez até
tenha dito, quando se tratava da interpretação efetuada por Martin Heidegger.
Afinal, em sua proposta
de “destruição”, o autor de “Ser e tempo” buscava o dito no não dito, a
condição de possibilidade do que havia sido expresso, a experiência originária
daquilo sobre o qual se expressou o pensamento.
No caso de Hegel, a
violência interpretativa não havia sido tão diferente. Gadamer, como estudioso
da filosofia antiga, comparou o que os primeiros pensadores escreveram e o que
Hegel disse sobre esses escritos. As imprecisões são expostas.
Mas, Gadamer lê Hegel
como parte de um caminho rumo à “consumação” da metafísica. Nesse sentido, o
autor de “Verdade e Método” é discípulo de Heidegger, pois lê a filosofia
ocidental em um “caminho do pensamento”.
Gadamer é preciso no
diálogo que estabelece entre Hegel e os antigos dialéticos. Mas, é filósofo,
assim como Hegel e Heidegger, ao contribuir com sua interpretação acerca do
“lugar” de Hegel na história da filosofia, sobretudo na consumação da
metafísica.
Nesse aspecto, os
filósofos são diferentes dos comentadores da filosofia. A “violência” feita na
leitura dos textos não é uma traição interpretativa, mas um passo além no que
foi dito. A mera repetição não é filosofia. Às vezes, o filosofar é feito com
“golpes de martelo”.
*Prof. Dr. Miguel Angelo
Caruzo
Filósofo. Escritor.
Filósofo Clínico. Livre Pensador.
Teresópolis/RJ
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