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Fragmentos Filosóficos, Literários, e algo mais*


"A produção literária de Mário Quintana parece exigir de nós uma nova atenção, talvez um novo tipo de atenção, dirigida à objetividade dos seus poemas, sem esquecer jamais que essa objetividade é impregnada de subjetividade. Podemos projetar no poeta o nosso entorno intelectual e emocional, contanto que não o sobrevalorizemos. A linguagem permanece, nós passamos"

"É bom desconfiar de esquematismos acadêmicos, embora os aprecie até certo ponto. Servem para podermos falar sobre aquilo que no poeta é indizível. Contudo, valorizo mais a intuição pessoal, o empenho em realizar uma leitura recriadora dos poemas, o desejo sincero de captar a fosforescência íntima da inspiração do autor (...) A poesia necessita de um certo tato de alma"

"(...) Por ser uma arte de linguagem, a Poesia é inesgotável. Ler um poeta pela segunda vez é lê-lo como se ele nunca tivesse existido. Com uma vantagem: o poeta já existiu uma primeira vez"

"Quintana foi um urbano auto-exilado, fora dos padrões tradicionais. Vivia na cidade, gostava dela, amava-a. No fundo, porém, não se interessava por ela. Queria uma cidade de outros tempos, arcaica, feita de lampiões, de solares, de cacimbas em pátios e de goiabeiras junto aos galinheiros. Não apreciava cidades que teimavam em evoluir, que se tornavam falsamente adultas, que viravam marmanjas (...) Um urbano à sua moda, inclassificável (...) um dos indivíduos mais cosmopolitas que viveram em Porto Alegre"

"(...) um poeta particularmente puro como Mario Quintana custou a ser entendido. A maioria das pessoas pensava que ele vivia no mundo da lua. Na realidade, Quintana vivia no mundo da rua, donde extraía a matéria de seus poemas"

"Quintana nasceu numa cidade interiorana, dessas que crescem mais em direção à memória do que em direção ao futuro"

"O complexo mundo emocional do poeta, mundo submarino, exige escafandros, para que se possam identificar, lá no fundo, na luminosidade esmeraldina de suas águas, os botos cor-de-rosa (...) um poeta não acessível aos leitores com pressa"

"(...) uma realidade que custou a ser percebida foi a de que a leitura do leitor revela mais sobre ele mesmo, o mundo do leitor, do que sobre o poeta (...) Paradoxalmente, para ser ele mesmo, o poeta precisa descobrir os outros"

"(...) Não se lê poesia impunemente"

*Armindo Trevisan in "Mario Quintana Desconhecido". Ed. Brejo. Porto Alegre/RS. 2006.   

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