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Fragmentos Filosóficos, Literários, e algo mais*


"(...) Naqueles anos, sondava-se cada rosto em busca daquilo que ele pudesse involuntariamente revelar, e apurava-se o ouvido para as nuanças e os indícios"

"(...) algo que escrevera antes e que destruíra cuidadosamente. Parecia-lhe estranho (...) que tivesse produzido e publicado tanto, que tivesse exposto tantas coisas pessoais, e que no entanto aquilo que ele mais precisava escrever nunca viesse a ser visto ou publicado, nunca viesse a ser conhecido ou compreendido por ninguém"

"Ler era algo tão silencioso, solitário e íntimo quanto escrever"

"Ansiava pelos anos futuros, quando escreveria novos personagens e observaria os atores criarem os papéis e representá-los a cada noite até que a temporada terminasse e eles voltassem ao descolorido mundo de fora do teatro"

"Sentiu desejo de estar no meio da escrita de um livro, sem nenhuma necessidade de terminá-lo antes da primavera (...) Sentiu desejo de poder trabalhar silenciosamente em seu escritório, com a cinzenta luz matinal do inverno londrino infiltrando-se pelas janelas. Sentiu desejo de solidão e do conforto de saber que sua vida não dependia da multidão, e sim de lele continuar sendo ele mesmo"

"(...) Não tinha levado em conta, percebia agora, as grandes deficiências do público, e tinha que encarar o fato melancólico de que nada do que fizesse seria popular ou universalmente estimado"

"Sua mente estava cheia de visões e ideias. Tinha esperança de que sua imaginação se convertesse em páginas escritas"

"Perguntou-se como sua anfitriã receberia o fato de ele não aparecer até a hora do almoço e supôs que poderia usar sua arte como licença para a solidão. A perspectiva de uma manhã sozinho, com a única companhia do panorama visto da janela e da encantadora harmonia de seu quarto, encheu-o de felicidade"

"(...) sabia que precisava conceder liberdades a sua mente. Vivia das operações aleatórias dela e agora, ao raiar do dia, via-se mergulhado numa nova série de meditações e ideias. Admirava-se de como uma ideia podia mudar tão facilmente de forma e aparecer fresca sob nova aparência"

"Sabia que não voltaria a sofrer a injúria das platéias de teatro; iria dedicar-se, como prometera, à silenciosa arte da ficção. Agora, bastava poder trabalhar para que seu dia fosse perfeito, repleto do deleite da solidão  e do prazer extraído das páginas concluídas"

"Ficou pensando em como, a cada dia, ao moverem-se em torno uns dos outros, cada um deles guardava consigo um mundo inteiramente privado, ao qual podiam retornar ao simples som de um nome, ou sem razão alguma"

"(...) ele ficava, por uns instantes, em dúvida se aquilo tinha de fato acontecido ou se seu mundo imaginado chegara finalmente a substituir o real"

*Colm Tóibín in "O Mestre". Ed. Cia das Letras. SP. 2005.   

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