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Fragmentos Filosóficos, Literários, e algo mais*


"Estou sentado, lendo um poeta. Há muitas pessoas na sala, mas não as sentimos. Estão nos seus livros. Movem-se por vezes nas páginas, como alguém dormindo se vira entre dois sonhos. Ah, como é bom estar entre pessoas que lêem (...)" 

"Estou aprendendo a ver. Não sei o que provoca isso, tudo penetra mais fundo em mim, e não pára no lugar em que costumava terminar antes. Tenho um interior que ignorava (...)"

"Por exemplo, eu jamais notara que há tantos rostos. Uma porção de gente, muito mais rostos do que pessoas, pois cada uma possui vários. Há pessoas que usam um rosto anos a fio; naturalmente, ele se desgasta (...)"

"(...) por causa de um verso é preciso ver muitas cidades, pessoas e coisas, é preciso conhecer bichos, é preciso sentir como voam os pássaros, e saber com que gestos flores diminutas se abrem ao amanhecer. É preciso poder recordar caminhos em regiões desconhecidas, encontros inesperados, e despedidas que há muito sentíamos chegar (...)"

"(...) Também não basta ter recordações. É preciso saber esquecê-las (...)"

"É possível que tenhamos de recordar a cada indivíduo que  ele nasce dos antepassados, que portanto contém em si todo esse passado (...)"

"É possível que se diga 'as mulheres', 'as crianças', 'os rapazes', sem pressentir (apesar de toda a cultura, sem pressentir) que há muito essas palavras não têm mais plural, mas apenas incontáveis singulares ?"

"O médico não me compreendeu. Não compreendeu nada. Também foi difícil explicar. Queriam tentar choques elétricos (...) Essa doença não tem características determinadas; ela assume as do indivíduo a quem ataca"

"(...) Uma nova vida cheia de novos significados. No momento é um pouco difícil para mim, porque tudo é novo demais. Sou um aprendiz das minhas próprias circunstâncias de vida"

"(...) prevendo indistintamente que a vida seria assim: cheia de coisas singulares, que se destinam a apenas uma pessoa, e que não se podem dizer (...) Ficava imaginando como se andaria por aí, cheio de coisas interiores, e em silêncio"

"(...) Estava em algum ponto dentro de si; raramente, e só por alguns momentos, saía de seus próprios sentidos, esses sentidos vazios, que ela já não habitava (...)"

"(...) Havia um singular silêncio em torno de cada palavra"

"E se nos tornássemos aprendizes, agora que tanta coisa está mudando ? (...)"

*Rainer Maria Rilke in "Os Cadernos de Malte Laurids Brigge". Ed. Novo Século. SP. 2008. 

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