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Divagações sobre o convencimento e a verdade*



Não importa o quanto um argumento seja bem elaborado, ele não necessariamente convencerá. Nem todos vivem a partir dos princípios lógicos. Nem os versados na ciência das construções racionais e investigações empíricas necessariamente baseiam suas vidas nos princípios de uma racionalidade.

Nossos pressupostos são de diversas naturezas desde aquelas recebidas ao longo da vida até aquelas criadas por meio de derivações abstratas. As verdades que norteiam nossas vidas, por mais objetivas que pretendam ser, revelam nossos limites e alcances de percepção, jamais a apreensão absoluta daquilo sobre o que nos remetemos.

Bem disse o filósofo espanhol Julián Marías ao constatar que um filósofo acerta na medida em que fala a respeito do que foi capaz de alcançar ou ver e erra quando fala além do que suas capacidades permitiram.

Nesse caso, até para avaliar um filósofo deveríamos nos dar conta de que aquilo que consideramos um erro pode ter sido por nossa impossibilidade de ver – ainda que por aproximação – o que ele viu, e não por um erro.

Nossos limites e capacidades estão na lógica, nos sentidos, nas intuições, nas emoções, nas derivações de nossas ideias, no modo como percebemos o mundo e a nós mesmos, nas relações que estabelecemos etc.

Seja como for, o que uma pessoa afirma pode ser assim para ela e para ninguém mais. É claro que em situações que envolvem mais pessoas há uma necessidade de um mínimo de consenso. É por isso que às vezes é necessário ceder e compreender que o outro tem suas “razões”; e nos convencermos de que o mundo é bem maior e mais complexo do que somos capazes de abarcar.

*Prof. Dr. Miguel Angelo Caruzo 
Filósofo. Escritor. Filósofo Clínico. Professor de Filosofia Clínica.
Teresópolis/RJ

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