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Fragmentos Filosóficos, Devaneios, e algo mais*


"As palavras, ademais, são 'instrumentos de atos úteis', de modo que nomear o real é cobri-lo, velá-lo com familiaridades, transpô-lo assim à condição daquilo que Hegel chamava: o demasiadamente conhecido, que passa despercebido. Para rasgar os véus e trocar a quietude opaca do saber pelo espanto do não-saber é preciso um 'holocausto das palavras', esse holocausto que a poesia realiza de saída"

"(...) o olho prefigura, seleciona aquilo que vê. E esse olho não está dado de saída: ele tem de inventar sua maneira de ver; por isso determina-se a priori e por uma livre escolha o que se vê. As épocas vazias são aquelas que escolhem se ver com olhos já inventados. Elas não podem fazer mais que refinar as descobertas das outras; pois aquele que traz o olho traz ao mesmo tempo a coisa viva"

"(...) Se a palavra parece sujeito quando falo, é porque me insinuo na palavra. Nesse sentido, o martelo ou a colher também são sujeitos quando os uso e não se distinguem da minha ação"

"Se uma sociedade filosofa, é porque 'há folga na engrenagem', é porque há espaço para o sonho individual, para a fantasia de cada um, para a interrogação e para a incompreensão. E enfim porque não há ordem social perfeitamente rigorosa"

"(...) só somos na medida em que nos descobrimos: o ser coincide com o movimento da descoberta (...)"

"(...) O ponto de partida é o fato de que o homem nasce da terra: ele é 'engendrado pela lama'. Entendemos por isso que ele é o produto de uma das inumeráveis combinações possíveis dos elementos naturais"

"Se estou no avesso de um mundo pelo avesso, tudo me parece direito. Portanto, se eu habitasse, eu mesmo fantástico, um mundo fantástico, não poderia de modo algum considerá-lo fantástico"

"Talvez conheçamos a lei de uma vez por todas. "Saber - escreve Alain - é saber que sabemos'. Mas essa é uma máxima do mundo em anverso. No mundo em reverso, o que sabemos ignoramos que sabemos, e quando sabemos que sabemos então não sabemos"
 
"É que o silêncio, como disse Heidegger, é o modo autêntico da fala. Só se cala quem pode falar. Camus fala muito - em O mito de Sísifo chegar a tagarelar-, e no entanto, confia-nos seu amor pelo silêncio"

"(...) há quatrocentos anos os filósofos e os cientistas vêm se empenhando em quebrar os quadros rígidos do conceito, em consagrar em todos os domínios a proeminência do julgamento livre e criador, em substituir o devir a fixidez (...)"

"O homem não é em absoluto a soma do que tem, mas a totalidade do que ainda não tem, do que poderia ter"

"Para compreender as palavras, para dar um sentido aos parágrafos, é preciso primeiro que eu adote seu ponto de vista, que eu seja o coro complacente. Essa consciência só existe por meu intermédio; sem mim haveria apenas borrões negros sobre folhas brancas"

*Jean-Paul Sartre in "Situações I". Ed. Cosac Naify/SP. 2005. 

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