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Fragmentos Filosóficos, Devaneios, e algo mais*


"A madrugada tem grandeza misteriosa que se compõe de restos de sonho e começos de pensamento"

"O vento encontra-se repleto de semelhante mistério. Do mesmo modo o mar. Também este é complicado; sob os vagalhões de água, que se vêem. Compõe-se de tudo. De todas as misturas, o oceano é a mais indivisível e a mais profunda. Experimente-se conhecer esse caos, tão enorme que termina à superfície. É o recipiente universal, reservatório para as fecundações, cadinho para as transformações"

"A diversidade solúvel funde-se em sua unidade. Possui tantos elementos que se transforma em identidade. Está todo em cada uma de suas gotas. Porque está repleto de tempestades, torna-se equilíbrio"

"As obras da natureza, não menos supremas que as obras do gênio, contém algo do absoluto e impõem-se. O que tem de inesperado faz que o espírito lhes obedeça imperiosamente; sente-se, no caso, premeditação que se encontra fora do homem. Não são nunca mais surpreendentes do que quando fazem, de súbito, o delicado sair do terrível" 

"(...) Ignorar convida a tenar. A ignorância é devaneio e o devaneio curioso constitui verdadeira força. Saber às vezes desconcerta e frequentemente desaconselha. Gama, se fosse sábio, teria recuado diante do cabo das Tormentas. Se Cristóvão Colombo tivesse sido bom cosmógrafo, não teria, de jeito nenhum descoberto a América" 

"A água é flexível porque é incompreensível"

"(...) Marcam a transição de nossa realidade para outra. Parecem pertencer a esses esboços de criaturas que o sonhador entrevê confusamente pela claraboia da noite. Tais prolongamentos (...) a princípio no invisível, no possível depois, foram suspeitados, percebidos talvez, pelo êxtase severo e pelos olhos fitos de magos e filósofos"

"A catástrofe e a felicidade entram e saem como inesperadas personagens (...)"

"Deus revelou suas intenções nas flores, na aurora, na primavera. Quer que todos amem"

"A vida é viagem; a ideia, itinerário. Se a pessoa não tem itinerário, pára"

"(...) Gilliart ignorava a palavra alucinação, mas conhecia o fato. Existem na natureza os misteriosos encontros com o inverossímil, encontros que, para sairmos do apuro, chamamos alucinação. Ilusões ou realidade, apresentam-se visões. Quem se acha presente vê-as. Gilliart, já dissemos, era cismarento. Possuía o dom de às vezes alucinar-se, como se fôra profeta. Ninguém é, impunemente, sonhador dos lugares solitários (...)"

*Victor Hugo in "Os Trabalhadores do Mar". Ed. das Américas/SP. 1957.

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