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Sonhadores* 

“Como se pudéssemos erguer um só alento ante o término do alento.”
                        Paul Auster (poema No fim do Verão) 

Gosto de brincar com as palavras, como se meu pensamento voasse da terra ao mais distante lugar, que nem o sentimento mais fraco alcançaria, pensar frágil na força do voar, como se lá pudesse penetrar palavras singrando o voo entre água e céu, um veleiro a sair da profundeza das águas escuras, aos poucos muda a cor, o límpido do pensar, a água se misturar com o olhar que sobe na distância a perder de vista.

Como se juntasse o mar com o céu, o veleiro de um lado ao outro, serpenteando o tom de cores e textos, que ao subir sem jamais retornar à terra. No fundo o dia se pondo, o vermelho do sol, como o mar a transmutar no deserto ardente, na trajetória das fugas, no inventar dos lugares, existirá um pensamento eclíptico em consonância dos dias com o corpo. O fogo no coração, os olhos líquidos rumo ao escuro das águas. A noite alcança o corpo que descansa à deriva. 

Muros de Dublin* 

Atravessamos muros,
Invisíveis, voamos desde o sul,
Embarcados, voamos em olhos de tempestade.
Atravessamos a nado os oceanos,
Repetimos os cânticos de liberdade e fugas,
Nos refugiamos. Ilhas inexistentes e do nada,
Os abraços saciam nossa vontade de partir,
A dor é não dizer adeus.
Atravessamos todos os países até cair de cara em tuas ruas.
A velhice é mais lenta para quem não teme mudar.
Mudamos a cor de nossa dor.
Comemos o levain que o mal desperdiçou,
Estamos em Dublin pra te ouvir.

*Prof. Dr. Luis Antonio Gomes
Filósofo. Editor. Escritor. Poeta. Livre Pensador.
Porto Alegre/RS

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