Os soluços finos
Dos violinos
De outono
Ferem minha alma
Com a lânguida e calma
monotonia do sono.
Paul Verlaine
(tradução de Juremir
Machado da Silva)
Meu amor é uma flor
perdida na escuridão, eu sei de tudo e nada disse que sei nada sobre a vida.
Chegada a hora de me manifestar, a razão anda perdida, os fanáticos percorrem
os corpos. Eles são o fundamento desta pobreza de espírito, ainda ando devagar,
quase correndo, e a fronteira é parte da vida.
Devo ir adiante sem olhar
para trás, devo ir avante remoendo a linguagem, desopilando o espírito? Tenho
que escutar a sabedoria do velho sentado à beira da estrada, logo em frente a
um bar, cuja placa deixa claro aos viajantes: “Atendemos só os filhos de Deus”.
O velho olha-me e diz que
não é para levar a sério, que entre e compre o que bem quiser, pois o filho
dele é só um fanático, não entende nada da vida, só dizer que é o que ele quer
que seja, que eu compre e caia fora. Antes que ele percebesse já tinha partido
e o velho me comentou: “Vai, meu caro, Deus está dentro de ti, ou não. Não
importa, a fronteira é logo ali adiante”.
Tenho que ir embora,
enquanto o trem não aparece, olho para todos os lados, o que mais me encanta é
o céu, perdido me vejo na clareza da vida. Depois da cancela, depois de uma
coxilha, estarei na estação do outro lado, feliz e triste, à espera do trem.
O Vazio dos outros me
encantava, não mais. Dou o adeus na solidão, não gostaria de estar na estação
sem os amigos. Eles já partiram. Tenho medo e me sinto feliz por ir ao encontro
de todos.
Agora é tarde, dizia
minha avó, e ela partiu antes de eu mesmo ter nascido para o mundo. Quando eu
ainda chorava em sua cama, ainda ouvia sua voz. Era apenas uma criança. Aprendi
a amar com a despedida sem um diálogo. Soube que eu ficava por perto. A solidão
marcou minha vida. A fronteira está logo ali.
*Prof. Dr. Luis Antonio
Gomes
Filósofo. Editor. Poeta.
Escritor. Livre Pensador.
Porto Alegre/RS
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