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Fragmentos Filosóficos, Literários, e algo mais*


"Naquele momento compreendi o que já sabia: o que podemos imaginar sempre existe, em outra escala, em outro tempo, nítido e distante, como num sonho"

"Um mapa é uma síntese da realidade, um espelho que nos guia na confusão da vida. É preciso saber ler entre as linhas para encontrar o caminho. Se a pessoa estuda o mapa do lugar onde mora, primeiro tem de encontrar o lugar em que está ao olhar o mapa (...)"

"(...) o romance, com Joyce e Cervantes em primeiro lugar, procura seus temas na realidade, mas encontra nos sonhos um modo de ler. Essa leitura noturna define um tipo particular de leitor, o visionário, o que lê para saber como viver"

"Sempre existe algo de inquietante, ao mesmo tempo estranho e familiar, na imagem concentrada de alguém que lê, uma misteriosa intensidade que a literatura fixou inúmeras vezes. O sujeito se isolou, parece separado do real (...) A vida não se detém, diria Kafka, somente se separa daquele que lê, segue seu curso. Há um certo desajuste que, paradoxalmente, a leitura viria exprimir"

"Há várias metamorfoses na vida de Guevara, essas mutações bruscas são uma marca de sua personalidade. Ele tem várias vidas simultâneas: a do viajante, a do escritor, a do médico, a do aventureiro, a da testemunha, a do crítico social (...)"

"A leitura funciona como um modelo geral de construção do sentido. A indecisão do intelectual é sempre a incerteza quanto à interpretação, quanto às múltiplas possibilidades da leitura (...) A vida se completa com um sentido que se retira do que se leu numa ficção"

"(...) É no espaço da massa e da multidão anônima que surge Dupin, o sujeito único, o indivíduo excepcional, aquele que sabe ver (aquele que ninguém vê). Ou melhor, aquele que sabe ler o que é necessário interpretar, o grande leitor que decifra o que não é possível controlar (...) Aquele que perde tem a distância para ver o que os triunfadores não vêem"

"(...) lembrar sua maneira de ler uma das cenas básicas da Odisséia. As sereias dispõem de uma arma mais terrível que seu canto: seu silêncio, diz Kafka (...) Kafka inverte as relações, altera os nexos. Não há mediações. Uma condensação assim radical leva a leitura a seu limite. Ler desvenda novas conexões (...)"

"Podemos ler filosofia como literatura fantástica, diz Borges, ou seja, podemos transformar a filosofia em ficção mediante um deslocamento e um erro deliberado, um efeito produzido no ato mesmo de ler (...) em Borges o ato de ler articula o imaginário e o real (...) a leitura constrói um espaço entre o imaginário e o real, desmonta a clássica oposição binária entre ilusão e realidade. Não existe nada simultaneamente mais real e mais ilusório do que o ato de ler (...)"

*Ricardo Piglia in "O Último Leitor". Ed. Cia das Letras. SP. 2017.   

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