Pular para o conteúdo principal

Fragmentos Filosóficos, Devaneios, e algo mais*


"(...) No tempo em que os baleeiros de Nantucket passavam muitos anos no mar, o jovem Melville (22 anos) embarca num deles (...) e percorre os oceanos. De volta à América, seus relatos de viagem obtêm um certo sucesso e ele publica em seguida seus grandes livros, que são recebidos com indiferença e incompreensão (...)" 

"É quase tão difícil falar em poucas páginas de uma obra que tem a dimensão tumultuosa dos oceanos em que nasceu quanto resumir a Bíblia ou condensar Shakespeare (...) para julgar o gênio de Melville, é indispensável admitir que suas obras traçam uma experiência espiritual de uma intensidade sem igual (...)"

"(...) o velho Melville nos anuncia que aceita (...) que a inocência e a beleza sejam mortas a fim de que uma ordem seja mantida e que o navio dos homens continue a avançar em direção a um horizonte desconhecido (...) "

"(...) é muito difícil aprender qualquer coisa sobre a conduta dos homens lendo as máximas de La Rochefoucaild. Essas frases belas e equilibradas, essas antíteses calculadas, esse amor-próprio erigido em razão universal, estão muito distantes dos desdobramentos e dos caprichos que fazem a experiência do homem"

"(...) Nesse meio-tempo, li toda a obra de Gide (...) Só a senti no meu segundo encontro porque, na época de minha primeira leitura, talvez eu fosse um jovem bárbaro sem luzes (...) e como não sermos eternamente gratos àqueles que ao menos uma vez admiramos por nos haverem alçado para o ponto mais elevado da alma!"

"(...) A balada da prisão de Reading (Wilde) (...) encerrando assim o itinerário vertiginoso que o levara da arte dos salões, onde todos só escutam a si mesmos nos outros, à arte das prisões, onde todas as celas lançam o mesmo grito de agonia que nasce do homem assassinado por seus semelhantes"
 
"(...) Simples e misterioso, ele (Roger Martin du Gard) tem algo do princípio divino de que falam os hindus: quanto mais o nomeamos, mais ele foge (...)" 

"As palavras fugidias, as reticências que revestem este silêncio e o ressaltam ainda mais (...)"

"(...) aquela mulher não pertence ao mundo que Antoine acreditava ser único e eterno. Ela é da raça que sempre parte, a nômade, o que se respira perto dela se chama liberdade (...)"

"O homem aprende aqui, em um instante turvo e triste, que está errado acreditar que deve morrer só. Todos os homens morrem junto com ele, e com a mesma violência (...)"

"(...) Devo-lhe, ao contrário, uma dúvida, que nunca acabará e que evitou (...) que eu me tornasse (...) um homem cegado por certezas limitadas (...)"

"(...) Constatar o absurdo da vida não pode ser um fim, mas apenas um começo. Esta é uma verdade da qual partiram todos os grandes espíritos. Não é esta descoberta que interessa, e sim as consequências e as regras de ação que se tira dela. No final desta viagem para as fronteiras da inquietação, Sartre parece permitir uma esperança: a do criador que se liberta ao escrever"

*Albert Camus in "A Inteligência e o Cadafalso". Ed. Record. RJ. 2018. 

Comentários

Visitas