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Fragmentos Filosóficos, Literários, e algo mais*


"(...) 'Se sou poeta ou ator, não o sou para escrever ou declamar poesias, mas para vivê-las', afirma Antonin Artaud numa de suas cartas a Henri Parisot, escrita do asilo de alienados de Rodez (...) este homem pagou cedo o preço de quem marcha adiante (...)"

"Com Antonin Artaud calou na França uma palavra dilacerada que só esteve pela metade do lado dos vivos enquanto o resto, partindo de uma linguagem inalcançável, invocava e propunha uma realidade vislumbrada nas insônias de Rodez (...)"

"(...) Artaud não é nem muito nem bem lido em parte alguma, uma vez que a sua significação já definitiva é a do Surrealismo no mais alto e difícil grau de autenticidade: um surrealismo não literário, anti e extraliterário (...)"

"Se o poeta é sempre 'algum outro', sua poesia tende a ser igualmente 'a partir de outra coisa', a encerrar visões multiformes da realidade na recriação singularíssima da palavra"

"O poeta não é um primitivo, mas, sim, esse homem que reconhece e acata as formas primitivas: formas que, olhando-se bem, seria melhor chamar 'primordiais', anteriores à hegemonia racional, e logo subjacentes ao seu famigerado império"

"(...) Imaginemos Edgar Poe num dia qualquer de 1843. Sentou-se para escrever numa das muitas mesas (quase nunca próprias), numa das muitas casas onde viveu passageiramente (...)"

"Os acontecimentos do mundo exterior que intervêm nas pausas da leitura modificam, anulam ou rebatem, em maior ou menor grau, as impressões do livro... O conto breve, ao contrário, permite ao autor desenvolver plenamente seu propósito (...)"

"(...) além do que o gênio é uma questão de perspectiva (...)"

"Muito do que tenho escrito ordena-se sob o signo da excentricidade, posto que entre viver e escrever nunca admiti uma clara diferença (...) como escrevo de um interstício, estou sempre convidando que outros procurem os seus e olhem por eles o jardim onde as árvores têm frutos que são, por certo, pedras preciosas (...)"

"E, contudo, os contos de Katherine Mansfield, de Tchecov, são significativos, alguma coisa estala neles enquanto os lemos, propondo-nos uma espécie de ruptura do cotidiano que vai muito além do argumento (...)"

*Julio Cortázar in "Valise de Cronópio". Ed. Perspectiva/SP. 2013.   

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