Ao longo
de um dia podem ser dezenas; ao longo de uma vida, dezenas de milhares. Pessoas
outras, no mundo, com as quais nos encontrarmos, existem pelo menos sete
bilhões. Mas com quantas podemos construir conexões profundas? E por que isso é
importante?
As
relações superficiais são tão necessárias quanto o ar que respiramos. Cabem no
happy hour depois do trabalho, no vôlei de praia aos finais de semana, no café
ou chopp de vez em quando. A pauta: amenidades... Falamos sobre o desempenho do
time do coração, sobre a adequação na escolha de um determinado ator para
determinado papel, sobre o meme que foi sensação das mídias sociais naquele
dia.
Por outro
lado, as conexões profundas são vitais, pelo simples motivo de que
necessitamos, em alguma medida, elaborar nossas questões. Quanto tempo
conseguimos fugir, negar, maquiar nossas dores, frustrações, vulnerabilidades,
sem um único “eu te entendo”, mesmo que venha acompanhado de um “você sabe que
vacilou, não”? Terapeutas estão com os consultórios lotados, por representarem
esse espaço de escuta, de acolhimento e de direção.
Varia de
frequência e de intensidade, mas é bem provável que toda pessoa emocionalmente
ativa, pelo menos uma vez na vida, precisou de intimidade. Precisou de alguém
com quem se sentir em casa. Um ouvido atencioso, um colo para deitar a cabeça e
refletir um pouco melhor sobre algo que estivesse angustiando, livre de
julgamentos, de reprimendas, de castrações ou de cobranças.
E como
construir esse espaço? Falar sobre o quanto o mundo em que vivemos não colabora
para a criação e manutenção de conexões profundas é terreno estéril. Porque
nunca se trata de fora, mas de dentro. Cada um reage, e age, a partir de si, de
seus gatilhos pessoais e intransferíveis. Tanto é assim que pessoas diferentes
respondem com palavras, sentimentos e ações de formas distintas aos mesmos
acontecimentos. E isso simplifica bastante a equação: basta que as duas pessoas
ou mais pessoas de fato queiram e permitam esse espaço de encontro, de conexão,
para que ele exista.
Às vezes,
simplesmente acontece. Existem pessoas com as quais você só quer se distrair um
pouco, eventualmente beijar na boca. E existem outras com as quais a alma pede
mais. Quer estar perto, fazer trocas, sentar ao lado e dizer “que bom que você
chegou, meu amigo, ou meu amor”. Essas dão mais trabalho. Exigem atenção,
presença (mesmo que virtual), alguma dose de entrega. Mas são, também, as que
ficam, as que marcam, e que transformam.
*Sandra Veroneze
Jornalista. Editora. Escritora. Filósofa Clínica.
São Paulo/SP
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