Em cada pessoa, de
tempos em tempos, lhe acena uma possibilidade de ser superlativo. Tendo como viés
de ruptura uma inquietude singular continuada, se faz contradição com seu cotidiano,
embora este sirva de base para sua transgressão. Pode ser algo, até então clandestino, embora
atuante, em sua estrutura de pensamento.
A concepção dessa região considera as margens
e lacunas discursivas na brevidade de um instante. Por essas trilhas, até então
desconhecidas ou inacessíveis, a nova geografia se insinua, desajustando a
ótica do tempo linear.
Com as palavras
desencontradas se rascunha uma realidade ainda sem tradução. Requer a interseção
aprendiz com essa novidade diante do espelho. Compreendendo um fenômeno
singular, é impreciso reconhecer esse lugar algum de todo lugar. Assim esse espaço
se mostra em lógicas de caleidoscópio. Nalgumas vezes se movimenta aquém de seu
melhor, noutras como se não houvesse amanhã.
A trama discursiva
presente nessa propedêutica, possui um não-saber como princípio, de onde se faz
possível compreender em que medida sua desmedida lhe cabe. Ao recordar que na
vida há sempre algo por nascer, um novo constructo tópico reivindica uma definição
provisória, acolhendo algo por chegar.
Essa voz presente nas
palavras permanece inacessível por inteiro, dela nos chegam rumores pelas
brechas da retórica inicial. O Filósofo Clínico, ao acolher essa estrutura em
vias de transformação, investiga a natureza das anterioridades, qualifica uma escuta
compreensiva, dialoga com o extraordinário nessa fonte de originais.
Uma dialética assim se
apresenta não como patologia ou
alguma forma de loucura, mas como um
momento de emancipação, por onde se insinuam múltiplas perspectivas
existenciais. Nesse sentido, visitar o mundo do outro significa reconhecer a
transposição de suas fronteiras, num ir e vir compartilhado, de onde nenhum dos
participantes sai o mesmo.
Entre o dito e o
não-dito é possível sentir a eternidade fugaz de um agora, se articulando com a
matéria-prima para reencontrar suas nascentes. Essa condição nem sempre
possível de acessar diretamente, descreve-se no sujeito interminável, onde as poéticas
da singularidade esboçam seu caráter de anúncio.
*Hélio Strassburger
Filósofo Clínico não alinhado
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