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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"Se este livro, que não deverá sobreviver para dar lições aos pósteros, pode no entanto servir de lição a alguém, deverá então ensinar que vivemos num período de evolução acelerada: e a única palavra que a cultura deve proferir para poder defini-lo será uma palavra de recusa das definições estáveis e catedráticas"

"(...) as novas obras musicais, ao contrário, não consistem numa mensagem acabada e definida, numa forma univocamente organizada, mas sim numa possibilidade de várias organizações confiadas à iniciativa do intérprete, apresentando-se, portanto, não como obras concluídas, que pedem para ser revividas e compreendidas numa direção estrutural dada, mas como obras 'abertas', que serão finalizadas pelo intérprete no momento em que as fruir esteticamente"

"No fundo, a forma torna-se esteticamente válida na medida em que pode ser vista e compreendida segundo multíplices perspectivas, manifestando riqueza de aspectos e ressonâncias, sem jamais deixar de ser ela própria"

"(...) Cada fruição é, assim, uma interpretação e uma execução, pois em cada fruição a obra revive dentro de uma perspectiva original"

"(...) uma obra de arte é uma estrutura que qualquer pessoa, inclusive seu autor, pode 'usar' como bem entender. Esse tipo de crítica visa, portanto, a considerar a obra literária como contínua possibilidade de aberturas, reserva indefinida de significados"

"(...) a tendência a fazer com que cada execução da obra nunca coincida com uma definição última dessa obra; cada execução a explica mas não a esgota, cada execução realiza a obra mas todas são complementares entre si, enfim, cada execução nos dá a obra de maneira completa e satisfatória mas ao mesmo tempo no-la dá incompleta, pois não nos oferece simultaneamente todos os demais resultados com que a obra poderia identificar-se"

"Citando Luigi Pareyson: 'todas as interpretações são definitivas, no sentido de que cada uma delas é, para o intérprete, a própria obra, e provisórias, no sentido de que cada intérprete sabe da necessidade de aprofundar continuamente a própria interpretação. Enquanto definitivas, as interpretações são paralelas, de modo que uma exclui as outras, sem contudo negá-las'"

"Das estruturas que se movem àquelas em que nós nos movemos, as poéticas contemporâneas nos propõem uma gama de formas que apelam à mobilidade das perspectivas, à multíplice variedade das interpretações. Mas vimos também que nenhuma obra de arte é, realmente 'fechada', pois cada uma delas congloba, em sua definitude exterior, uma infinidade de 'leituras' possíveis"

*Umberto Eco in "Obra Aberta". Ed. Perspectiva. SP. 2005. 

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