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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"A ciência da natureza não é senão ciência das relações. Todos os progressos de nossos espírito consistem no descobrimento de relações. Ora, além do fato de que a imaginação é a mais fecunda e maravilhosa descobridora de relações e das harmonias mais ocultas (...)"

"Romualdo Giani que cita Homero: '(...) que escrevia antes de qualquer regra, não sonhava por certo estar grávido de regras como Jove de Minerva ou de Baco, nem que a sua irregularidade seria medida, analisada, definida e reduzida a capítulos ordenados para servir de regra a outros e impedi-los de ser livres, irregulares, grandes e originais como êle (...)'"

"Círculo linguístico de Praga: '(...) justamente esse desvio da norma, que rompia as expectativas do leitor, explicava o processo da arte, que é um processo de desautomatização mediante um recurso de singularização (efeito de estranhamento; Chklóvski, 1917: ficamos 'despaisados' quando um autor descreve um objeto de maneira que não o reconhecemos). O poeta usa o código da língua, em cada obra ou conjunto de obras, como uma espécie de subcódigo individual, personalíssimo. Este código privado e individual, no nível da função poética, vai constituir um idioleto (...)"

"(...) e se deixa ao mesmo tempo penetrar da iluminada vidência de William Blake, outro poeta da 'infinitude', capaz de discernir 'o cosmo num grão de areia' e "a eternidade num segundo'"

"O crítico de artes plásticas José Roberto Teixeira Leite, fala em: 'vocábulos que estão em permanente estado de mutação, em peças de um caleidoscópio, dando as mais inesperadas combinações'"

"Romualdo Giani: 'O artista que aspire a pensar originalmente e a dizer coisas próprias de seu tempo deve preparar a língua de que necessita com suas próprias mãos (...)"

"Giácomo Leopardi: 
'O Infinito       
 A mim sempre foi cara esta colina
deserta e a sebe que de tantos lados
exclui o olhar do último horizonte.
Mas sentado e mirando, intermináveis
espaços longe dela e sobre-humanos
silêncios, e quietude a mais profunda,
eu no pensar me finjo; onde por pouco
não se apavora o coração. E o vento
ouço nas plantas como rufla, e aquele
infinito silêncio a esta voz
vou comparando: e me recordo o eterno,
e as mortas estações, e esta presente 
e viva, e o seu rumor. É assim que nesta imensidade afogo o pensamento: e o meu naufrágio é doce neste mar.'"

*Haroldo de Campos in "A arte no horizonte do provável". Ed. Perspectiva. SP. 1977.                                      

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