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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*



"(...) no mundo do sonho não se voa porque se tem asas, mas acredita-se ter asas porque se voa. As asas são consequências. O princípio do voo onírico é mais profundo. É esse princípio que a imaginação aérea dinâmica deve reencontrar"

"(...) o hábito é a exata antítese da imaginação criadora. A imagem habitual detém as forças imaginantes. A imagem aprendida nos livros, vigiada e criticada pelos professores, bloqueia a imaginação"

"O homem, enquanto homem, não pode viver horizontalmente. Seu repouso, seu sono é quase sempre uma queda"

"Só a imaginação pode ver os matizes, ela os apreende na passagem de uma cor a outra (...) Florescer é deslocar matizes, é sempre um movimento matizado"

"É o trajeto que nos interessaria, e o que nos descrevem é a estada. Ora, o que queremos examinar nesta obra é na verdade a imanência do imaginário no real, é o trajeto contínuo do real ao imaginário"

"(...) O sonhador deixa-se ir à deriva"

"Pretende-se sempre que a imaginação seja a faculdade de formar imagens. Ora, ela é antes a faculdade de deformar as imagens fornecidas pela percepção, é sobretudo a faculdade de libertar-nos das imagens primeiras, de mudar as imagens"

"Graças ao imaginário, a imaginação é essencialmente aberta, evasiva. É ela, no psiquismo humano, a própria experiência da abertura, a própria experiência da novidade"

"Que as mais belas páginas não sejam compreendidas de imediato, que se revelem pouco a pouco, ao mesmo tempo num verdadeiro devir de imaginação e num enriquecimento dos significados"

"No reino do imaginário, não é impossível que o moinho faça girar os ventos. O leitor que recusa essa inversão derroga os princípios do onirismo. Sem dúvida ele pode compreender uma realidade, mas como haveria de compreender uma criação ? Uma criação deve imaginar-se"

*Gaston Bachelard in "O ar e os sonhos". Ed. Martins Fontes. SP. 2001

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