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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*



"(...) para ler bem, é preciso prestar ouvidos à voz original, adivinhar as diferenças de acento que a articulam e que se tornaram imperceptíveis no espaço homogêneo da escrita. Na leitura, o olho treinado do Gramático ou do Lógico deve subordinar-se a um ouvido atento à melodia que dá vida aos signos: estar surdo à modulação da voz significa estar cego às modalidades do sentido"

"(...) Ele é o 'urso' que escolhe a solidão quando poderia viver em Paris; todas as suas escolhas, enfim, todo o estilo de sua existência cotidiana o designam como alguém que escapa à norma e se expõe às mais pérfidas interpretações"

"(...) a identidade constituída pelo sentimento da existência estaria sempre em sursis: ela jamais ultrapassaria a chama do instante e não poderia assegurar a continuidade temporal do eu. A alma é mais mutável que Proteu ou que um camaleão e podemos dizer: 'Nada é tão diferente de mim quanto eu mesmo'"

"Rousseau escreveu: 'Sabeis que a verdade, seja qual for, muda de forma segundo a época e os lugares, e que se pode dizer em Paris o que, em dias mais felizes, não se poderia dizer em Genebra'"

"Rousseau: 'Para bem apreciar as ações dos homens, é preciso tomá-las em todas as suas relações, e é isso que jamais nos ensinam a fazer. Quando nos colocamos no lugar dos outros, é sempre como se nós fôssemos modificados, não como se eles devessem sê-lo, e quando pensamos julgá-los segundo a razão, apenas comparamos seus preconceitos com os nossos'"

"(...) o filósofo está para o homem como o homem para o animal"

"(...) Diz Rousseau, cada sentido tem para nós um mundo que lhe é próprio e uma legislação que lhe é particular"

"(...) toda humanidade é local e que a universalidade só se encontra no sistema das diferenças"

*Bento Prado Jr. in "A retórica de Rousseau". Ed. Cosacnaify. SP. 2008

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